Saturday, July 22, 2006

Vida de astrônomo: como é observar?

Primeiro o astrônomo precisa obter tempo de observação em algum telescópio. Para tal é necessário enviar projetos para os diversos observatórios que possuem os instrumentos adequados à pesquisa em questão. Por exemplo, digamos que eu esteja interessada em saber porque as estrelas possuem cores distintas, e se as cores estão relacionadas com as outras propriedas físicas das estrelas, como por exemplo idade, massa, tamanho. Neste caso eu teria que observar uma amostra de estrelas de diversas cores com um instrumento que possa medir a intensidade do brilho utilizando diversos filtros de diversas cores. Neste caso eu estaria fazendo fotometria e necessitaria de uma câmera CCD (parecida com uma câmera digital acoplada ao telescópio) de boa qualidade e equipada com diversos filtros e boas condições atmosféricas durante a observação. Eu teria então que estimar quantas noites seriam necessárias para completar as observações e enviar o pedido para o observatório escolhido. Depois de julgado por uma comissão de especialistas o projeto poderia ser aprovado ou não. Caso fosse aprovado, bastaria comprar a passagem para a viagem, fazer a reserva no hotel do observatório e seguir para alguma montanha do mundo. Devo mencionar que geralmente o astrônomo vai observar com tudo pago por alguma agência de fomento à pesquisa. Os observatórios oferecem a logística necessária para o astrônomo se desligar do mundo e se concentrar nas observações. São várias noites, e em alguns casos até meses de observações e anos de preparação e análise dos dados. A vida de observador é uma vida fora da realidade, inclui dormir poucas horas, tomar café da manhã na hora do almoço e preparar o telescópio para a noite que em certas latitudes durante o inverno pode ser bem longa, chegando a mais de 13 horas consecutivas. Em alguns observatórios, o lanche da meia-noite é o high-light da noite. Astrônomos se revesam com os assistentes e colaboradores para um lanchinho que pode ser degustado no restaurante do observatório. No inverno, a esta altura o astrônomo já está observando a mais de 5 horas e um omelete quentinho tem um sabor inimaginável e recarrega as baterias para as outras 6-7 horas que vem pela frente. Em outros observatórios, o lanche da noite é preparado com antecedência pelos cozinheiros e entregue ao astrônomo antes de subir para observar ao entardecer. Hoje em dia o astrônomo passa pouco tempo na cúpula aberta onde fica o telescópio. Como tudo é computadorizado, o astrônomo, muitas vezes acompanhado de um assistente noturno, fica em uma sala de observações monitorando tudo pela tela do computador Uma sala típica de observação tem de tudo: computadores, livros, calculadoras, frutas, sanduíches, biscoitos, muito, muito café e música de fundo. Dependendo do tipo de observação o intervalo entre um objeto e outro a ser observado é relativamente grande. Muitas vezes o mesmo objeto precisa ser observado durante um longo período de tempo para que se obtenha uma boa imagem. Seria como tirar uma fotografia com o obturador da máquina aberto. A espera pode ser entediante e a internet ajuda a passar o tempo e a preparar os dados recém obtidos para a primeira análise. Mais para o fim da noite o cansaço vai batendo e a produtividade caindo. Eu combato o cansaço com música bem alta, e se estou sozinha canto e danço entre uma observação e outra. Sair caminhando pela montanha a noite é super interessante. Várias cúpulas abertas com os telescópios apontando para a escuridão da noite e muita música de fundo. Às vezes se acha algum astrônomo passeando com uma lanterninha na mão a caminho do hotel. Isto é sinal de que algo de errado aconteceu durante as observações e tiveram que fechar a cúpula. Pode ser um problema técnico ou nuvens! E nas noites nubladas o restaurante é mesmo a única opção, a não ser que alguém organize alguma reuniãozinha. Alguns observatórios tem sala de projeção para um cinema, sala de jogos, videos e televisão. A internet mantém o astrônomo, que está alienado na montanha, informado do que se passa no resto do mundo e ajuda a passar o tempo. É na montanha também que os astrônomos têm a oportunidade de conhecer outros astrônomos do mundo inteiro.



Observatório de La Silla no Chile, pertence ao European Southern Observatory (ESO), Observatório europeu austral.

4 comments:

Nathilda said...

Nossa, Duília!! Estou gostando muito do seu blog!! Meu sonho é ser astrônoma e aqui estou conhecendo muito bem essa profissão!! Adorei conhecer melhor o trabalho do astrônomo num observatório. Muito obrigada por compartilhar isso conosco =)

Unknown said...

amei. Quanto recebem? como é na faculdade? O que mais gosta de fazer na sua profissão e o que menos gosta?
Seu blog esta esplêndido.

duilia said...

Legal que estão gostando, as respostas a estas pergunts estão no fim do blog http://mulher-das-estrelas.blogspot.com/2009_03_01_archive.html

Olhem também o meu blog novo no Jornal O Globo http://oglobo.globo.com/blogs/mulherdasestrelas/

Thyelle Dias said...

vida de astronomo é demais!!!!!!(apesar da correria em????kkkkkkkk)mais só tenho 14 anos e sou apenas astronoma amadora.o que faço alem disso, é dar palestras de astronomia e astrofisica na minha escola ou na casa da ciencia aqui em ribeirão preto(cidade em que moro),faço obsevaçoês noturnas a noite toda (pois tenho insonia) catalogar estrelas e planetas no tempo em que estou livre, ler livros blogar, pesquisar,ler, fazer calculos, participar dos planetarios e ajudar no observatorio, minha vida é uma loucura.não sei como meus pais deixam... eles detestam astronomia...triste... imagina quando eu virar uma astronoma profissional.mais eu gosto dessa maluquice!!!!!!!!rsrsrsrsrsr te adoro