Saturday, September 9, 2006

A SN1997D

Imagem da SN1997D (veja a setinha) que explodiu na galáxia NGC1536 que está a uns 5 milhões de anos-luz da Terra. Isto que dizer que a supernova que descobri explodiu há 5 milhões de anos atrás! Durante a explosão, as supernovas liberam mais energia do que o nosso Sol produzirá durante 10 bilhões de anos.

A descoberta da Supernova, parte III

Lá pelas 6 da manhã fui dormir como de rotina e as 11 eu já estava acordada e conversando com o Stefano. Ele pediu para ver o mapa que eu tinha e o espectro que eu tinha obtido durante a noite e disse imediamente que eu havia descoberto uma supernova nunca observada anteriormente. Eu achei meio suspeito que ele pudesse dizer isto apenas olhando para o mapa e para o espectro e perguntei se ele não tinha um catálogo. O italiano ainda de barba por fazer, olhos de quem dormiu pouco, me respondeu secamente: Eu sou o catálogo! Depois fiquei sabendo que ele era realmente o responsável por catalogar as supernovas no ESO. Bem, engoli aquela e combinei com ele que observaria a supernova novamente e ele disse que iria tentar observar a galáxia com um outro telescópio que pudesse fazer uma imagem da galáxia com a supernova. Fui correndo para a sala do computador tentar achar algum catálogo de supernova pois não estava muito convencida de que tinha eu sido a primeira a ver a explosão! Não achei nenhuma informação e comecei a admitir que talvez tivesse mesmo descoberto uma supernova. A esta altura comecei a mandar emails para o Brasil dizendo que tinha descoberto uma supernova. Depois de tanta euforia, chegou a noite e fui trabalhar. Comecei a preparar o telescópio e quando estava observando o Stefano chegou com uma imagem recém tirada em um outro telescópio menor, de 0,9m de diâmetro. Acho que foi uma das maiores emoções da minha vida - eu tinha realmente descoberto uma estrela!
Agora faltava contar para o mundo que havia mais uma supernova no céu. Escrevemos um telegrama para a União Astronômica Internacional reportando a descoberta e esperamos pela resposta no dia seguinte para saber qual seria o “nome” da dita cuja. Hoje em dia, as supernovas não recebem nomes dos descobridores, mas numeros que correspondem ao ano da descoberta e letras que correspondem à ordem da descoberta. No meu caso, eu descobri a Quarta supernova do ano de 1997, daí 1997D. Foi aí que o Observatório Nacional resolveu fazer um press release e o Jornal do Brasil me achou no Chile. Tive que contar como descobri mas foi um pouco difícil passar os detalhes para o jornalista que insistia que o D era de Duília. No final acabou saindo no título do artigo “astrônoma brasileira batiza supernova no Chile”. Outros jornais e revistas também publicaram a matéria e comecei a receber emails do mundo todo me parabenizando pela descoberta. Amigos que eu já não lembrava e desconhecidos me escreviam contando como estavam orgulhosos com a minha descoberta. Hoje a supernova 1997D é assunto de mais de 60 artigos internacionais. Costumo dizer que a descoberta da supernova renovou a minha paixão pela astronomia que, de uma certa forma, estava virando rotina na minha vida.

A Descoberta da Supernova, Parte II

Lá pela 1 da madrugada, após apontar o telescópio para a coordenada de uma das galáxias, comecei a contar estrelas identificando precisamente quem era quem no mapa do céu e no visor da buscadora[1]. A galáxia em questão, NGC1536, praticamente não aparecia no visor, pois é um objeto muito distante. Mas próximo a galáxia havia uma estrela no visor que não estava no mapa. Por triangulação calculei a posição da estrela intrusa em relação à galáxia e para minha surpresa verifique que a estrela estava superposta à galáxia! Foi aí que decidi rodar o instrumento que eu iria utilizar na observação da galáxia, um espectrógrafo[2], e centrá-lo exatamente sobre a posição do objeto estranho. Eu poderia ter deixado ter decidido a observar apenas o núcleo da galáxia sem incluir a estrela na fenda do espectrógrafo, mas curiosidade é um dos meus pontos fracos e não pude resistir.
Meu namorado na ocasião, que hoje é meu marido, veio me visitar enquanto eu aguardava o resultado. Tommy trabalhava no mesmo observatório auxiliando os radioastrônomos suecos e já tinha terminado o trabalho daquela noite quando veio me trazer um mixto-quente. Quando eu disse para ele o que estava fazendo, ele pensou que eu estivesse brincando. Mas assim que o resultado apareceu na tela, arregalamos os olhos e decidi telefonar para um outro astrônomo do observatório, Chris Lidman, para pedir a opinião dele e continuei a observar as outras galáxias. Quando o Chris chegou a mesa já estava cheia de livros do assunto e já sabíamos classificar a supernova. Ele confirmou que os dados se pareciam mesmo com os de uma supernova e sugeriu que eu conversasse com um outro astrônomo, Stefano Benetti, no dia seguinte para confirmar a descoberta e providenciar outras observações.
[1] Este telescópio não produz imagens, mas possui uma luneta de grande campo, uma buscadora, que mostra o campo a ser observado e a fenda do espectrógrafo em uma telinha de televisão.
[2] Espectrógrafo é um instrumento que decompõe a intensidade da luz como função do comprimento de onda.

A descoberta da Supernova, Parte I

Atendendo a pedidos hoje vou contar como descobri uma supernova em janeiro de 1997. Alguns meses antes da descoberta uma estudante de doutorado da USP havia me perguntado se eu saberia como identificar uma supernova em uma galáxia. Foi quando parei para pensar no assunto e lembrei de algumas fotos que tinha visto em revistas e disse que uma supernova provavelmente apareceria como uma estrela superposta à imagem da galáxia. O fato de eu ter parado para pensar sobre isto me ajudou na descoberta da supernova e a tomar a decisão certa na hora certa.
Na ocasião eu já era doutora em astronomia e bolsista do CNPq no Observatório Nacional no Rio e estava em La Silla, no Chile, observando uma amostra de galáxias. Este era o primeiro turno de observações dos astrônomos do Observatório Nacional no telescópio de 1,52m que estávamos alugando do observatório europeu, ESO. Eu era uma observadora experiente, já havia utilizado este telescópio em outras oportunidades e não necessitava de assistente noturno pois dava conta do telesópio sozinha. Eu comecei a observar assim que escureceu e seguia a lista de prioridades que eu havia feito para aquela noite. Cada vez que mudava de objeto, eu consultava o mapa da região do céu onde estava a galáxia que eu deveria observar.

Monday, September 4, 2006

Voto Polêmico

Meu amigo Tadeu me perguntou e como estamos em ano de eleições decidi revelar o meu voto. Calma, calma, não é o voto que vocês estão pensando não: votei contra manter Plutão na classe de planetas. Não dava mais para justificar a presença dele. Se ele continuasse, outros pedregulhos teriam que entrar como planetas do sistema solar. E a tendência é que o número destes objetos aumente muito daqui para frente com a tecnologia avançando como está.
O que eu não entendo é o alarde que a própria comunidade astronômica está fazendo por causa disto. Tem até abaixo assinado com nomes de astrônomos famosos. Disseram até que deveríamos manter Plutão por motivos históricos, o que eu acho o maior ABSURDO. Imagina se por motivos históricos mantivéssemos a Terra como o centro do universo. Que Copérnico não me escute (). Ciência é assim mesmo, dinâmica, cheia de mudanças e descobertas. O que eu estou gostando é que está todo mundo falando do sistema solar coisa que poucos fazem no seu dia a dia.
Prometo mudar de assunto.... ainda esta semana vou incluir o trecho do livro sobre a descoberta da minha supernova, afinal precisamos comemorar os 2mil cliques!!! AGUARDEM!!!!



Eu passando em frente ao Relógio Astronômico de Praga construído na idade Média (1410) e ainda o centro de atrações da cidade!