Thursday, July 27, 2006

Ele tava lá!

SE VOCÊ ME DEIXOU ALGUM COMENTÁRIO, É BEM PROVÁVEL QUE EU TENHA RESPONDIDO. PROCURA POR AÍ. SE EU NÃO RESPONDI E VOCÊ GOSTARIA DE UMA RESPOSTA, PERGUNTA NOVAMENTE, OK?
Fomos ontem assistir ao filme "Air Force one" no cinema ao ar livre de Oshkosh. Foi muito legal. Tudo escuro, pipoca de graça, todo mundo sentado na grama, e de repente, flashes, holofotes, ele chegou, ele chegou. Era o Harrison Ford entrando, subindo no palco. Todo mundo se comportou, ninguém tietou muito, aí o mestre de cerimônias o apresentou e bateu um papo com ele. Foi ótimo. Além de ser o Harrison Ford que conhecemos, ele é simpático, parece ser boa pessoa, muito humano e com senso de humor afiado. Ao apresentar o filme, Air Force One (não sei o nome que deram no Brasil, se alguém souber, me deixa um comentário) ele disse que era um dos piores filmes de aviação, mas um bom drama. Realmente, ele tem razão, que dramalhão. Mas antes do filme começar ele revelou os planos de fazer um outro Indiana Jones. Parece que vai sair no próximo ano, ele já têm um script. Não vou perder!!! Tirei fotos, mas ainda não passei para o computador.
Hoje fiquei no hotel enquanto o maridão foi ver os aviões. Tinha trabalho pra fazer e decidi que um dia seria o suficiente para ficar entre os aviões. Irei amanhã cedo e tomarei uma overdose de avião. Depois eu conto como foi e coloco fotos.

Tuesday, July 25, 2006

Aviões, aviões e Harrison Ford

Nos próximos dias vou mudar um pouquinho o rumo do blog e vou mostrar um outro lado meu. Meu marido, Tommy, me convenceu a ir mais uma vez a uma cidadezinha pequenina em Wisconsin chamada Oshkosh que durante uma semana se transforma no aeroporto mais visitado do mundo. São mais ou menos 700 mil pessoas durante uma semana celebrando a aviação. É o maior show aéreo do planeta, sem dúvida. Mas já fomos 2 anos seguidos, estava querendo pular esse. Mas não deu, ele insistiu e no final comprou as passagens, fazer o quê? perdi essa. Vou ter que ir a Oshkosh mais uma vez e ficar com dor no pescoço de tanto ver avião. Tem avião de todos os tipos, tamanhos e idades. Aviões históricos e futurísticos. E para vocês terem uma idéia da importância do evento, sabe quem vai estar lá novamente? o Harrison Ford! ele é piloto e trabalha com crianças que sonham em pilotar. Ano passado ele estava lá e eu estive pertinho dele. Quando o Tommy disse que tinha comprado as passagens, pensei, hmmmm quem sabe desta vez não bato um papo com o Harrison Ford? kkkkkkk O problema de ir a Oshkosh este ano é que no ano passado foi bom demais. Vai ser difícil ser melhor. Teve show aéreo do Global Flyer que bateu o recorde de número de horas sem abastecer ao redor da Terra. Foi de lá também que o Spaceship One decolou em direção ao museu Aeroespacial de Washington. O Spaceship One foi o que ganhou o prêmio por ter saído e voltado da atmosfera terrestre no ano passado. Resumindo, só um papinho com o Harrison Ford para poder superar a emoção do ano passado? kkkkkk

Monday, July 24, 2006

Celebrando mil cliques!

Oi pessoal para comemorar os mil cliques no blog, coloco uma foto minha sorridente em frente ao campo profundo do Hubble (Hubble Deep Field). Continuem prestigiando e quem sabe o blog vira livro mesmo?


Saturday, July 22, 2006

Vida de astrônomo: como é observar?

Primeiro o astrônomo precisa obter tempo de observação em algum telescópio. Para tal é necessário enviar projetos para os diversos observatórios que possuem os instrumentos adequados à pesquisa em questão. Por exemplo, digamos que eu esteja interessada em saber porque as estrelas possuem cores distintas, e se as cores estão relacionadas com as outras propriedas físicas das estrelas, como por exemplo idade, massa, tamanho. Neste caso eu teria que observar uma amostra de estrelas de diversas cores com um instrumento que possa medir a intensidade do brilho utilizando diversos filtros de diversas cores. Neste caso eu estaria fazendo fotometria e necessitaria de uma câmera CCD (parecida com uma câmera digital acoplada ao telescópio) de boa qualidade e equipada com diversos filtros e boas condições atmosféricas durante a observação. Eu teria então que estimar quantas noites seriam necessárias para completar as observações e enviar o pedido para o observatório escolhido. Depois de julgado por uma comissão de especialistas o projeto poderia ser aprovado ou não. Caso fosse aprovado, bastaria comprar a passagem para a viagem, fazer a reserva no hotel do observatório e seguir para alguma montanha do mundo. Devo mencionar que geralmente o astrônomo vai observar com tudo pago por alguma agência de fomento à pesquisa. Os observatórios oferecem a logística necessária para o astrônomo se desligar do mundo e se concentrar nas observações. São várias noites, e em alguns casos até meses de observações e anos de preparação e análise dos dados. A vida de observador é uma vida fora da realidade, inclui dormir poucas horas, tomar café da manhã na hora do almoço e preparar o telescópio para a noite que em certas latitudes durante o inverno pode ser bem longa, chegando a mais de 13 horas consecutivas. Em alguns observatórios, o lanche da meia-noite é o high-light da noite. Astrônomos se revesam com os assistentes e colaboradores para um lanchinho que pode ser degustado no restaurante do observatório. No inverno, a esta altura o astrônomo já está observando a mais de 5 horas e um omelete quentinho tem um sabor inimaginável e recarrega as baterias para as outras 6-7 horas que vem pela frente. Em outros observatórios, o lanche da noite é preparado com antecedência pelos cozinheiros e entregue ao astrônomo antes de subir para observar ao entardecer. Hoje em dia o astrônomo passa pouco tempo na cúpula aberta onde fica o telescópio. Como tudo é computadorizado, o astrônomo, muitas vezes acompanhado de um assistente noturno, fica em uma sala de observações monitorando tudo pela tela do computador Uma sala típica de observação tem de tudo: computadores, livros, calculadoras, frutas, sanduíches, biscoitos, muito, muito café e música de fundo. Dependendo do tipo de observação o intervalo entre um objeto e outro a ser observado é relativamente grande. Muitas vezes o mesmo objeto precisa ser observado durante um longo período de tempo para que se obtenha uma boa imagem. Seria como tirar uma fotografia com o obturador da máquina aberto. A espera pode ser entediante e a internet ajuda a passar o tempo e a preparar os dados recém obtidos para a primeira análise. Mais para o fim da noite o cansaço vai batendo e a produtividade caindo. Eu combato o cansaço com música bem alta, e se estou sozinha canto e danço entre uma observação e outra. Sair caminhando pela montanha a noite é super interessante. Várias cúpulas abertas com os telescópios apontando para a escuridão da noite e muita música de fundo. Às vezes se acha algum astrônomo passeando com uma lanterninha na mão a caminho do hotel. Isto é sinal de que algo de errado aconteceu durante as observações e tiveram que fechar a cúpula. Pode ser um problema técnico ou nuvens! E nas noites nubladas o restaurante é mesmo a única opção, a não ser que alguém organize alguma reuniãozinha. Alguns observatórios tem sala de projeção para um cinema, sala de jogos, videos e televisão. A internet mantém o astrônomo, que está alienado na montanha, informado do que se passa no resto do mundo e ajuda a passar o tempo. É na montanha também que os astrônomos têm a oportunidade de conhecer outros astrônomos do mundo inteiro.



Observatório de La Silla no Chile, pertence ao European Southern Observatory (ESO), Observatório europeu austral.

Wednesday, July 19, 2006

De otorrino para oftalmologista

A carreira, continuando ... Quando chegou a hora de decidir o tema da minha tese de doutorado, mudei de orientação e me tornei astrônoma ótica. Eu estava um pouco desiludida com a radioastronomia brasileira que não conseguia investimentos para melhorar o radiotelescópio de Atibaia, grande amigo meu. Passei muitos meses em Atibaia coletando dados para a minha tese de mestrado e conhecia o radiotelescópio como poucos e sabia as suas limitações. Estava na hora de mudar e depois de um desentendimento com a minha orientadora que se negava a me mandar para os EUA a terminar o meu doutorado, comecei a primeira revolução na minha carreira mudando de área. Foi difícil e até traumático já que eu era especialista em radioastronomia. Seria mais ou menos como se eu fosse otorrinolaringologista e de repente decidisse ser oftalmologista. Meu novo orientador, Ronaldo de Souza, um mineiro muito paciente, começou a me levar para algumas viagens a Itajubá onde ele me ensinou como observar com o telescópio óptico de 1,6m do Laboratório Nacional de Astrofísica (LNA)[1]. Fomos juntos a Atibaia também pois tínhamos um projeto que precisava de observações ópticas e de rádio das mesmas galáxias. Ele. que era oftalmologista, agora estava dando uma de otorrino e eu vice-versa. Neste meio tempo fui a uma conferência nos EUA apresentar os resultados da minha tese de mestrado e lá conheci um grupo de astrônomos da Universidade do Alabama que me convidou para estudar lá. Tranquei minha matrícula na USP e fui para os EUA onde passei 3 anos e meio na Universidade do Alabama, em Tuscaloosa. Lá fiz pesquisa, dei aulas e passei por todas as crises que muitos doutorandos passam, inclusive divórcio. Vou parar por aqui, deixo os detalhes da minha vida de estudante para um outro livro, que devo escrever quando já estiver mais velha e puder ver tudo com mais clareza e de uma distância saudável.
[1] O telescópio de 1,6m fica no Observatório do Pico do Dias em Itajubá (veja foto), MG, e entrou em funcionamento em 1981. O observatório possui tamém dois outros telescópios de 60cm, um dos quais foi adquirido da ex-Alemanha Oriental entre os anos 60/70 em troca de café e entrou em operação em 1983.

Monday, July 17, 2006

Carro velho é fogo...

Mais um dia com friozinho no estômago, mas no final deu tudo certo, ufa! finalmente o ônibus espacial, Discovery, pousou no Cabo Canaveral, Florida, sem maiores problemas. Mas cada viagem destas tem sido um sufoco na NASA. Os riscos são altos e se der algum problema na próxima viagem, vai ficar dificil ir até o Hubble para fazer manutenção... Bem, temos que aguardar o discurso do Administrador da Nasa e prestar atenção se ele menciona alguma coisa sobre a ida ao Hubble no ano que vem. Ele é fanzoca do Hubble e entende a importância do telescópio, se depender dele estaremos lá no ano que vem. E por falar em Hubble, a camera ACS que tinha dado problema no mês passado voltou a observar. Teve um problema em um dos motores, mas agora já está tudo bem, estamos usando o motor extra, como disse o meu amigo: carro velho é fogo...


Saturday, July 15, 2006

A carreira, continuando...

A carreira é longa e na minha época demorava ainda mais. Mas ainda na faculdade eu comecei a receber bolsa de estudos. Foi no último ano do curso de graduação em astronomia da UFRJ/Valongo quando fui fazer iniciação científica no Observatório Nacional (ON). Eu tinha decidido que queria ser radioastrônoma, achava super interessante a detecção e análise de sinais de rádio emitidos por corpos celestes. Mas para entrar no ON naquela época vindo do Valongo não era fácil. Os pesquisadores do ON preferiam trabalhar com alunos de física ou matemática pois achavam que era desnecessário fazer graduação em astronomia. Eu quando fiz vestibular não sabia disto e mesmo que soubesse teria optado pela astronomia pois queria mesmo estudar astronomia desde o começo. Queria ter uma boa base de física e matemática mas queria me atirar de cara na astronomia, saber porque o universo era como era o mais cedo possível. Quando me dei conta do problema da marginalização dos astrônomos do Valongo dentro da comunidade astronômica (HOJE ISSO JÁ NÃO É ASSIM) fiquei frustrada e tentei abrir as portas por todos os lados que eu pudesse. No final eu e um outro aluno do Valongo fomos falar com o diretor do ON e revelamos nosso desejo de fazer radioastronomia. Ele nos apresentou ao grupo de radioastrônomos dos quais começamos a fazer parte. Fiz um ano de iniciação científica em radioastronomia no Observatório Nacional com bolsa do CNPq e terminei a universidade. Como eu queria continuar na radioastronomia fui fazer o mestrado em SP onde estava a maioria dos radioastrônomos brasileiros. Ingressei no mestrado do INPE (Instituto de Pesquisas Espaciais) que operava o único radiotelescópio do Brasil em Atibaia[1], SP (veja foto) Uma antena parabólica de 13,7m de diâmetro que fica dentro de uma redoma parecida com uma bola de golfe. A cúpula é transparente às ondas de rádio e protege o radiotelescópio da chuva e ventos. Muitos que não pararam para pensar no assunto, pensam que é necessário abrir a redoma para se observar. E se você não parou para pensar, aí vai uma analogia interessante: você precisa abrir a janela da casa ou carro para escutar rádio? Não! As ondas de rádio são muito maiores que a espessura das paredes e passam tranquilamente por elas. Terminei o mestrado em três anos e me mudei juntamente com a minha orientadora, Zulema Abraham, e seus outros estudantes para a USP onde comecei o doutorado.


[1] Atualmente o Rádio Observatório do Itapetinga é operado mediante convênio entre a Universidade Mackenzie e o INPE.
continua....





Redoma da antena parabólica de 13,7m do radio observatório do Itapetinga. Veja o texto para entender melhor como funciona!

Thursday, July 13, 2006

Voltei!

Oi pessoal, voltei ontem. Teve gente que acertou que aquela foto e do maior radiotelescopio do mundo (305m) que se chama Arecibo e fica em Porto Rico. Porto Rico fica no mar do Caribe, e eh territorio dos Estados Unidos. Ninguem passou as coordenadas do local, entao aih vai: latitude 18°20′36.6″N, longitude 66°45′11.1″W. Foi tambem em Arecibo que filmaram parte do filme Contato e o 007 Golden Eye. Quem nunca viu, vai alugar correndo. Contato eh um dos meus filmes favoritos.
A vida ainda estah meio corrida por aqui, depois que tudo acalmar volto a publicar trechos do livro.
Beijos

Friday, July 7, 2006

Fora do ar até quinta

Oi galera, vou ficar fora do ar por uns dias. Vou de férias para um lugar lindo que por sinal é onde fica o maior radiotelescópio do mundo, vejam a foto e me digam o nome do observatório e aonde fica geograficamente??? jah estou com saudades...



Thursday, July 6, 2006

E como é ser astrônoma

Quando eu falo que sou astrônoma, todo mundo imagina que vivo no mundo da lua, já que o estereotipo associado a figura do astrônomo é que ele é um ser noturno, tímido e que nunca sai a luz do sol. Ainda ontem quando eu estava lendo o último livro da Isabel Allende, Meu país inventado, me deparei com um parágrafo no qual ela comentava a idéia que tinha dos astrônomos. Em uma conversa dela com um chileno que havia trabalhado no observatório europeu, ESO[1], no Chile, ela mencionou que “deve ser incrível trabalhar com cientistas cujos olhos estão sempre voltados para o infinito e que não se preocupam com as mesquinharias terrestres”. Ele respondeu que era completamente o oposto e que astrônomos eram tão mesquinhos quanto os poetas. E ainda citou que eles brigam até por geléia no café da manhã. Bem, eu nunca briguei por geléia, nem gosto de geléia, e raramente tomo café da manhã, então deixa eu contar um pouquinho como é ser astrônoma.

Primeiro preciso esclarecer que nem todo astrônomo é observador, muitos são teóricos e outros não chegam a observar mas utilizam dados já obtidos por outros astrônomos. Eu sou astrônoma observacional e foi este lado da astronomia que me fascinou desde o princípio. Acho que minha vida mudou depois que eu olhei pela primeira vez por um telescópio. Foi logo no início do meu primeiro ano da universidade quando um dos alunos mais antigos apontou um dos telescópios para o planeta Saturno e convidou os calouros para uma noite de observação. Eu não pude me conter de emoção e tenho até hoje aquela imagem registrada na minha mente. Mas foram muitos anos de trabalho duro, muita física e matemática, até poder chegar ao estágio observacional.
A carreira de astrônomo é bem longa e requer bachalerado em astronomia ou física (alguns são matemáticos) e curso de pós-graduação (mestrado e doutorado). No Brasil apenas a UFRJ oferece o curso de bachalerado em astronomia que é ministrado no Observatório do Valongo e na ilha do Fundão. A USP recentemente começou a oferecer especialização em astronomia. Várias das grandes universidades oferecem o curso de mestrado e doutorado em astronomia ou astrofísica. Geralmente os cursos de pós-graduação são oferecidos pelos Institutos de Física ou de Geociências. A duração dos cursos depende muito do desempenho do aluno e atualmente as bolsas de estudos são oferecidas por 2 anos para o mestrado e 4 anos para o doutorado.
continuo depois....


EXTRA! EXTRA! ESCREVI UM LIVRO CONTANDO COMO É A VIDA DE ASTRÔNOMO(A), O VIVENDO COM AS ESTRELAS. PROCUREM ONLINE http://livraria.folha.com.br/catalogo/1023472/vivendo-com-as-estrelas

Wednesday, July 5, 2006

Meu asteróide favorito, Ida


Essa batatona ai é o meu asteróide favorito, Ida! A foto foi tirada pela sonda espacial Galileo em agosto de 93 chegando a 2400 km de distância dele e de sua lua (isso mesmo, Ida tem um satélite) chamada Dactyl. Ida mede 56x24x21 km e Dactyl mede apenas 1.2 x 1.4 x1.6 km.
Querendo ver e saber mais sobre asteroides entra aqui (em ingles)http://solarsystem.nasa.gov/planets/profile.cfm?Object=Asteroids&Display=Gallery


A Mulher das Estrelas INFORMA:O asteróide conhecido como 2004XP14 passou anteontem a 430 mil km de distância da Terra e, para os que não sabem de cabeça, a Lua fica a 383 mil km de distância. Ou seja, o asteróide passou longe pacas da Terra para causar qualquer alarde e a uma velocidade de 64mil km/h.O tal asteróide já é conhecido dos astrônomos e vem sendo monitorado desde que foi descoberto em 2004 pelo projeto INTEGRAL. Ele tem um diâmetro de uns 400 metros e não deve se chocar com a Terra. A órbita dele fica longe o suficiente para causar qualquer problema... Lembre-se que a lei da gravidade usa a massa dos culpados e o inverso da distância entre eles ao quadrado.

Sunday, July 2, 2006

E ser mulher cientista, ajuda ou atrapalha?

Confesso que eu nunca tinha parado para pensar no assunto antes de sair do Brasil pela primeira vez, já que no Brasil existem muitas astrônomas. Hoje em dia já estou acostumada, mas no início era difícil entrar em alguns ambientes e ser a única mulher, ou uma das poucas. Mas o que mais me chocou foi saber que ser mulher na astronomia e na maioria das outras ciências, atrapalha. Eu que sempre fui boa aluna e sempre me considerei uma das favoritas dos meus professores e professoras, me vi pela primeira vez sendo tratada ´diferente´ porque era mulher. As meninas americanas aprendem desde pequena quase tudo que aprendemos no Brasil, brincam de boneca, de pintar unhas, etc, mas aprendem também que são inferiores intelectualmente. Por exemplo, um dos preconceitos nos EUA é de que mulheres não são tão inteligentes quanto aos homes e, principalmente, que mulheres detestam matemática[1]. Tem até uma boneca Barbie que ao se apertar um botão diz, entre outras coisas, “matemática é muito difícil”. Imagine se sua filha ficar apertando o tal botão o dia inteiro, como as crianças geralmente fazem, no final do dia ela vai mesmo acreditar que matemática é difícil apesar de nem saber direito o que é matemática. Eu não sei bem de onde surgiu este preconceito, mas sei que existe. Sempre que converso com cientistas americanas elas contam casos que me chocam. Uma amiga minha astrônoma me contou que sempre que ela publica algum artigo com o primeiro nome escrito, ela recebe pareceres dos editores com um tom diferente e muito mais crítico do que quando ela publica com apenas a inicial do primeiro nome e o sobrenome. Pode ser coincidência, estatiscamente falando ela tem poucos artigos para dizer isto, mas sempre que posso menciono o caso dela para que outras astrônomas fiquem de olhos abertos.

[1] Este capítulo foi escrito antes do que aconteceu na Universidade de Harvard, EUA, em janeiro de 2005 quando o reitor, Lawrence Summers, fez um discurso dizendo que talvez haja menos mulheres na área científica e de engenharia não somente por causa do preconceito que elas sofrem mas talvez porque o cérebro das mulheres seja diferente do dos homens, ou seja um problema biológico. Ele ainda disse que as mulheres com família não parecem interessadas em trabalhar 80 horas por semana como os homens e por isto desistem da carreira. Várias mulheres que estavam na audiência durante o discurso saíram indignadas no meio da discussão. O assunto virou primeira página de jornal e o reitor já pediu desculpas em público. Eu nunca vou perdoá-lo pelo que disse, mas o agradeço por ter tocado na ferida! Espero que quando este livro estiver publicado Harvard já tenha mudado de reitor (Extra, extra, extra, o cara já foi demitido!!)