Wednesday, June 28, 2006

Astronomia? Você vai fazer isso mesmo?

Me lembro de um estudante universitário brasileiro que conheci nos EUA que um dia me perguntou porque eu havia escolhido ser astrônoma já que eu era bonitinha e até normal. Não quero entrar em detalhes sobre o rapaz, já falecido, estou apenas usando o comentário que ele fez para ilustrar o que o povo pensa dos cientistas e, pior ainda, da mulher cientista. Eu fiz astronomia porque sempre fui muito curiosa e porque decidi que queria saber mais sobre o universo e o que havia aprendido na escola não era o suficiente.


Mas quero deixar bem claro que não foi uma decisão fácil. Na época da escolha da carreira para prestar o vestibular, eu tinha apenas 16 anos e muitos achavam que eu deveria tentar outra carreira. Um professor de português do cursinho me disse que eu era inteligente e deveria fazer engenharia ou medicina, que fazer astronomia seria um desperdicioí. Fui salva pelo meu professor de história que ouviu a conversa e disse em alto em bom tom para eu fazer aquilo que gostasse, melhor ela ser uma astrônoma feliz do que uma engenheira frustrada . Obrigada, Geraldo! - Realmente suas palavras foram muito importantes (devo mencionar que o professor que português era chatíssimo e o comentário do sempre interessante professor de história teve muito mais peso).


Do lado familiar houve um pouco de pressão também, mas não suficientemente forte para me fazer desistir de ser astrônoma. Meu pai chegou a mencionar que gostaria de ter uma filha dentista, que meu irmão mais velho tinha escolhido engenharia, minha irmã arquitetura e meu outro irmão medicina. Segundo ele, só faltava uma dentista na família. Aos 16 anos tive que disapontá-lo e ao invés do céu da boca dos clientes, optei por obervar o céu de verdade! às vezes me pergunto se a pressão teria sido maior se eu fosse um dos meninos. Isto não vou saber nunca.


Minha mãe foi um pouco relutante no princípio, mas com o tempo se tornou solidária à minha escolha. Moràvamos no Rio desde 1973 e em 1979, minha mãe me levou ao observatório do Valongo (foto abaixo) para que pudéssemos saber mais sobre a carreira e eu pudesse ter certeza da escolha. Na descida da ladeira do Valongo, onde o curso de astronomia da Universidade Federal do Rio de Janeiro é ministrado, um lugar pitoresco do centro antigo do Rio de Janeiro, ela me perguntou se eu sabia como era o mercado de trabalho e como me tornaria independente sendo astrônoma. Antes de prosseguir neste assunto, devo abrir um parêntesis para falar da minha super-mãe! Uma mãe que lutou para que os seus quatro filhos fossem para universidade e para que suas filhas fossem independentes de marido (palavras dela). Ela sempre lutou para conseguir bolsa de estudos e todos n ós estudamos em colégios particulares, apesar dos problemas financeiros da família. Fechando o parêntesis e voltando ao assunto da carreira, acho que convenci a minha mãe de que fazer astronomia não era o fim do mundo quando disse para ela que no futuro eu poderia fazer um concurso e dar aula na universidade, afinal todos os professores de lá eram astrônomos. Ela que era professora primária, mas que não lecionava, ficou satisfeita com a solução e me apoiou muito desde então. Educação é mais fácil de se entender do que pesquisa. E espero que o leitor tenha uma idáia melhor do que á ser pesquisador depois que ler este livro.


Meus pais se tornaram com o tempo fãs da minha carreira e sempre acompanharam tudo que fiz. Meu pai se tornou um observador do céu e sempre me mantinha informada do que se passava na imprensa e no céu brasileiro. Minha mãe coleciona os artigos populares que escrevo para as revistas brasileiras, dando um aspecto um pouco mais humano a esta vida de livros e pesquisa que levo. Pesquisar pode ser bem solitário e `as vezes muito cansativo e até uma obsessão. O cientista tem que viver intensamente aquilo que está pesquisando, procurando soluções para os problemas encontrados. São 24 horas pensando durante os 365 dias do ano. Mesmo quando estamos de férias fica difícil desligar e temos no nosso subconsciente o que vamos fazer quando voltarmos ao trabalho. E quando não estamos fazendo nada relacionado ao trabalho dá aquele sentimento de culpa de que poderíamos estar pesquisando, criando, analisando. Casais de cientistas (meu marido também é astrônomo) são ainda mais obsessivos com a pesquisa, pois existe aquela quase-sempre compreensão mútua e enquanto um assiste televisão pois precisa se desligar um pouco do trabalho, o outro trabalha terminando o próximo artigo a ser publicado.



Observatório do Valongo, UFRJ

6 comments:

Thyelle Dias said...

ai duilia... meus pais vão sempre serem contra a minha decisão... mas não a ponto de eu desistir!!!!!!!

Michaella said...

Estou aqui com uma vontade pulsante de fazer astronomia, mas eu não disponho de uma vontade certeira... o que fazer?

Michaella said...

Estou aqui com uma vontade pulsante de fazer astronomia, mas eu não disponho de uma vontade certeira... o que fazer?

duilia said...

Sugiro visitar alguma universidade, planetario, observatorio e conversar com os estudantes e astronomos de lá antes de tomar a decisão. Precisa gostar de matemática, física, ciências. Boa sorte!

Unknown said...

QueRO fazer astronomia desde sempre, porém o que me preocupa é o mercado de trabalho referente a essa área. Não quero depender dos meus pais até terminar o doutorado ou o mestrado.

Unknown said...

QueRO fazer astronomia desde sempre, porém o que me preocupa é o mercado de trabalho referente a essa área. Não quero depender dos meus pais até terminar o doutorado ou o mestrado.