Friday, June 23, 2006

Capítulo 1

Capítulo 1
Prefácio

Desde pequena eu decidi que queria entender o universo e até mudá-lo, se necessário. E aos 16 anos, quando tive que optar por uma carreira, decidi que queria ser astrônoma. Hoje tenho dois títulos de mestrado, um de doutorado, dois pós-doutorados, e sou pesquisadora assistente da Nasa. Mas às vezes me questiono se teria realmente valido a pena todo o meu investimento pelo entender. Qual é o prazer de se viver em uma ilha de conhecimento sem passá-lo adiante? Foi aí que comecei a escrever este livro onde tento responder às diversas perguntas que as pessoas me fazem por este mundo afora. Nas minhas idas e vindas como astrônoma, já estive em mais de 25 países e ainda este ano devo acrescentar mais dois à minha coleção. Já morei nos EUA, no Chile e na Suécia, falo 4 idiomas, sou paulista de nascimento, carioca de coração, flamenguista, salgueirense, casada, tia de 8, tia-avó de 2 e estou em crise de meia-idade.

1. Cientista?

A primeira pergunta que me fazem quando eu digo que sou astrônoma é “O quê? cientista?” - Sim! E aí ou a pessoa vai embora correndo sem demonstrar curiosidade com medo de revelar a ignorância ou fica interessadíssima, arregala os olhos e arrisca alguma pergunta, mas geralmente relacionada à astrologia.

Fica difícil transformar em palavras o que é ser cientista. Uma vez li em uma reportagem destas cheias de estastísticas inúteis que em qualquer lugar do mundo que se peça a alguém que descreva um cientista famoso, a figura do Einstein aparece. O que não é de se estranhar, já que o Einstein foi um dos maiores cientista de todos os tempos, mas bem que ele podia ter tido um aspecto menos peculiar, não? Imagina se o Einstein tivesse cara de galã, como o Tarcísio Meira, cortasse os cabelos regularmente e se vestisse elegantemente. Será que o Tarcísio seria reconhecido pelo mundo afora como sinônimo de cientista? E se o Einstein fosse a Glória Menezes? Será que ela teria chegado lá?

Para os que nunca pararam para pensar no assunto, são poucas as mulheres cientistas e na época do Einstein éramos menos ainda. Eram poucas as exceções como a Marie Curie e sua filha, Irene Curie[1]. Ah! Teve o marido dela também, o Pierre Curie. Muitos machistas até falam que quem fez o trabalho da Marie foi o Pierre e que ela só ganhou prêmio Nobel em física em 1903 porque era casada com ele. E o tal prêmio Nobel, que é campeão em injustiça, sempre foi famoso pela discriminação contra as mulheres. A Marie Curie, também conhecida por Madame Curie, foi a primeira mulher a ganhar o prêmio Nobel. A carreira da Marie Curie é uma das mais fascinantes da história da ciência e sugerir que ela não merecia os prêmios é o maior absurdo do mundo. Desde quando marido algum faz trabalho para mulher? O contrário é muito comum, mas eu não conheço marido nenhum fazendo trabalho para a mulher e deixando que ela leve a fama. Além do mais, quando a Marie ganhou o segundo prêmio Nobel em química em 1911, o marido já nem era mais vivo, tinha morrido atropelado por um carro em 1906. Bem, mas a imagem do Einstein vai mesmo nos perseguir por um bom tempo e vamos sempre ter esta caricatura maluquete associada ao cientista.
[1] Marie Sklodowska Curie (1867-1934) nasceu na Polônia em 1867 e se mudou para a França em 1891. Ganhou o prêmio Nobel em Física pelo seu trabalho em radioatividade juntamente seu marido Pierre Curie, e o prêmio Nobel em Química quando conseguiu isolar o elemento rádio em sua forma pura. Irene Joliot-Curie (1897-1956) nasceu na França e ganhou o prêmio Nobel em Química em 1935 pelo seu trabalho em radiotividade artificial juntamente com seu marido Frederic Joliot.

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