Thursday, April 19, 2007

Há 10 anos atrás - último capítulo

Pois é, esta semana estive super ocupada, mas vou postar o último capítulo dos 10 anos atrás. Cheguei no dia 23 de abril de 1997 em Baltimore e fiquei até agosto de 1999, quando fui para a Suécia. Muita coisa aconteceu neste período, trabalhei muitíssimo, casei, conheci uns 10 países, escrevi muitos artigos, fui a inúmeras conferências e fiz muito amigos. Mas acho que uma das experiências mais interessantes foi novamente proporcionada pelo Bob Williams. Aqui vai o trecho que escrevi no livro:


No início de 1998 eu fiquei sabendo que o Bob estava planejando tirar uma segunda imagem profunda com o Hubble mas desta vez apontando para o céu do hemisfério sul. Vários astrônomos tinham comentado com ele da necessidade de uma outra imagem profunda que serveria para verificar se a primeira era mesmo típica do universo. Além disto, como muitos dos observatórios mundiais se encontram no hemisfério sul, voltando o Hubble para o sul possibilitaria que os outros observatórios do sul também observassem o mesmo campo. Eu fiquei toda animada com o novo projeto e mandei um email para o Bob perguntando se eu poderia fazer parte do projeto já que eu era uma das poucas pessoas do hemisfério sul no instituto! Foi uma desculpa esfarrapada mas que serviu para abrir a porta. O Bob imediatamente me incluiu no grupo de 30 pessoas que estavam envolvidas no projeto. As observações seriam feitas no fim de setembro e início outubro e teríamos mais ou menos um mês para prepará-las para análise e entregá-las para a comunidade. Foram 30 dias muito intensos. Eu tinha sido escolhida para fazer todas as correções de apontamento nas imagens. Assim que as imagens chegassem nos computadores do STScI, a analista de dados me avisaria e eu teria que implementar a correção de apontamento. Esta correção precisava ser feita porque o Hubble não estava apontando durante todos os dia sem interrupção. Pelo contrário, se fizéssemos isto as imagens ficariam saturadas e cheia de defeitos causados pela detecção de raios cósmicos . Dividimos as observações em intervalos de tempo (aproximadamente 30 minutos) e depois de cada observação re-apontamos o telescópio para a coordenada desejada. Ao fazer o re-apontamento do telescópio, temos que levar em conta os pequenos erros na precisão do apontamento. Como eram tantas as imagens estes pequenos erros poderiam se somar e virar grandes erros. Eu monitorei cada imagem, determinei o erro e implementei as correções juntamente com um outro astrônomo do STScI, Stefano, que era um dos coordenadores da campanha. Fui uma das primeiras pessoas a ver as imagens que chegavam à Terra, uma sensação difícil de descrever. Eu terminei minha contribuição no fim da segunda semana e o resto do time trabalhou 24 horas por dia terminando de preparar as imagens até chegarem na imagem final. Eu aprendi muito nesta aventura e sou grata ao Bob por ter me incluído no time.

Fiquei ainda mais fã do Bob Williams ao ver como ele administrou o projeto. O HDF-S, como é conhecida a imagem profunda do sul, era um projeto ainda mais ambicioso que o primeiro. O Bob arriscou novamente e decidiu apontar todos os instrumentos do Hubble simultaneamente e obter não apenas uma imagem, mas 3 imagens. Um dos instrumentos, o espectrógrafo de imagens STIS , ficou apontado para um quasar, a câmera WFPC2 e a câmera infravermelha NICMOS apontaram para regiões vazias do céu.


A imagem tirada com a WFPC2, que eu fui uma das primeiras a ver!

Mais informação sobre o Hubble Deep Field South: http://www.stsci.edu/ftp/science/hdfsouth/hdfs.html
http://zuserver2.star.ucl.ac.uk/~apod/apod/ap981214.html

1 comment:

Parsoli said...

E você não pode imaginar a emoção de um astrônomo amador ouvir de uma profissional essa experiência fascinante de visualizar pela primeira vez os corpos e fenômenos celestes, e ainda por cima em português, além das curiosidades que envolveram todo esse projeto.
Desejo-lhe um bom fim de semana.