Monday, March 2, 2009

Quer ser astrônomo(a) ?

Muita gente me escreve perguntando o que fazer para ser astrônomo e se deveria mesmo seguir a carreira. Eu e o pessoal do Clube Mulher das Estrelas fizemos uma coletânea das perguntas e respostas (updated 11-2014). Espero que seja útil, estou sempre acrescentando perguntas e respostas aqui. Se ainda assim você não achar a resposta para a sua pergunta, me encontre no facebook ou leia o livro que publiquei, o Vivendo com as estrelas (editora Panda) (clique). Veja a análise da Folha de SP e também o artigo da Ciência hoje da Criança.

Fui também blogueira da revista Superinteressante e do Jornal o Globo http://oglobo.globo.com/blogs/mulherdasestrelas/
ATUALMENTE A MULHER DAS ESTRELAS ESTÁ RESPONDENDO NO FACEBOOK. Passa lá e curte https://www.facebook.com/pages/Mulher-das-Estrelas/185799964812210

Tenho twitter também http://twitter.com/dudemello e uma página http://mulherdasestrelas.com/


1 - O que é necessário para ser Astrônomo?

O astrônomo profissional deve fazer bacharelado em astronomia ou física (tanto faz), alguns também são matemáticos. A licenciatura em física não é uma boa opção pois é para quem vai lecionar e não para quem vai fazer pesquisa.

A astronomia é uma carreira acadêmica e são poucas as opções para o profissional que não tiver pós-graduação, ou seja, mestrado e doutorado. Mas existem vários astrônomos que trabalham em planetários ou que são professores de física ou matemática, sem o grau de doutor.

2 - Quanto tempo demora?

MUITO! Bacharelado: 4-5 anos, pós-graduação; mestrado: 2-3 anos, doutorado: 4-5 anos. Desde o ingresso no vestibular deve demorar uns 10 anos para se tornar doutor em astronomia. Mas a boa notícia é que já começamos a ganhar bolsa de estudos ainda no bacharelado (bolsa de iniciação científica). Nenhum estudante que eu conheça faz ou fez pós-graduação sem bolsa de estudos. A bolsa não é alta mas dá para viver. Tudo isto é válido para estudar no exterior também. Alguns países não exigem o título de mestrado antes de cursar o doutorado. Mas no Brasil é regra geral fazer mestrado primeiro. Existem alguns casos de alunos de doutorado sem título de mestrado, mas são casos especiais.

3 - Como posso estudar astronomia no Brasil?

Além da UFRJ, recentemente a USP e a UFS (Aracaju) começaram a oferecer o curso de bacharelado em astronomia no Brasil, mas quase todas as federais e estaduais oferecem o curso de física. Muitos astrônomos profissionais são físicos e se especializaram em astronomia no mestrado e doutorado. A USP oferece também a especialização em astronomia dentro do curso de física.

Muitos astrônomos são professores em departamentos/institutos de física. Por exemplo, UFRGS (Porto Alegre), UFSC (Florianópolis), UFSM (Santa Maria), UERJ, UFRN (Natal), UFMG (Belo Horizonte), e outras cidades menores como Londrina, Cuiabá, Feira de Santana, Itajubá, também possuem grupos de astrônomos atuantes. A USP/IAG concentra o maior número de astrônomos. Eu recomendo uma visita a um destes centros para os que não estão seguros da escolha.

A astronomia também começa a crescer em universidades particulares como a Cruzeiro do Sul em SP (UNICSUL) e Mackenzie (SP) e existem outros grupos emergentes como a UESC, UNIVAP, UNIFEI.

4 - É necessário ir para o exterior para estudar astronomia?


É possível ficar no Brasil SIM! O Brasil oferece todos os cursos necessários e os astrônomos podem trabalhar em universidades, institutos de pesquisas e planetários brasileiros. Mas é muito comum sair uma vez por ano para participar de congressos no exterior e visitar observatórios e outras instituições. O bom pesquisador é aberto a colaborações com outros pesquisadores tanto do Brasil quanto do exterior.

5 - As universidades do exterior costumam dar bolsas de estudo para estudantes estrangeiros na área da astronomia?

Geralmente os estudantes de doutorado brasileiros saem do país por uns 2 anos para trabalhar em algum projeto de pesquisa. A bolsa pode ser brasileira ou estrangeira. Não é muito difícil de conseguir, precisa apenas ter um bom projeto e algum colaborador no exterior. É possível conseguir bolsa para fazer o doutorado integral no exterior também. Para concorrer a bolsas nos EUA basta mandar o currículo para as universidades, mandar cartas de recomendação e fazer as provas do GRE e TOEFL. O bom aluno e que fala bem inglês tem boas chances de conseguir bolsa americana. Eu fui bolsista no exterior com bolsa brasileira e com bolsa americana.

6 - Os astrônomos trabalham ao ar livre?

Infelizmente a maior parte do trabalho é feito dentro da sala, em escritórios com computadores. Mas nada impede que o astrônomo curta atividades ao ar livre. A grande maioria dos astrônomos gosta de viajar, explorar e passear pelas montanhas.

7 - Quais os idiomas um astrônomo brasileiro precisa saber?

O astrônomo brasileiro precisa saber bem o português e o inglês. Outras línguas como o espanhol, o francês e o alemão podem ajudar durante as viagens, mas não são essenciais.

8 - Astrofísica é diferente de astronomia? Quais são as áreas de trabalho?

Astrofísica é uma área da astronomia e assim como a física quântica é uma área da física. O físico formado pode fazer doutorado (PhD) em astrofísica, física quântica, ou em outras áreas da física, como física de partículas, física do estados sólidos, etc. A maioria dos físicos com título de doutor em astrofísica, geralmente trabalha em alguma universidade aonde faz pesquisas e leciona.

9 - Em que áreas da astronomia trabalham os matemáticos?

Os matemáticos geralmente trabalham na área de Mecânica Celeste, cálculo de órbitas, etc. Muitos deles trabalham na Embratel-Star One.

10 - É necessário um astrônomo gostar de cálculos ou matemática?

Eu recebo bastante mensagens de jovens que gostariam muito de fazer astronomia mas não gostam de cálculos e/ou física. Eu não vejo nada de errado nisto, pelo contrário, isso é o mais comum. Mas na vida temos que ser realistas, não adianta fazer astronomia se não tiver afinidade com a matemática e com a física. Se o único motivo que te leva a fazer astronomia é a beleza dos astros e a curiosidade, eu sugiro, que você se torne um astrônomo(a) amador. Os amadores são grandes conhecedores da astronomia e curtem a astronomia como hobbie. Hoje em dia com a internet, o acesso a informação é fácil e barato. Além disto, os preços de telescópios e binóculos estão cada vez mais baixos, o que facilita a vida do amador. Sugiro também cursos em planetários e museus, desta forma você pode se atualizar e conhecer a astronomia um pouquinho mais profundamente. A matemática é uma ferramenta fundamental para o astrônomo e não dá para escapar dela. O astrônomo profissional é um cientista e está sempre usando todas as ferramentas possíveis para responder os problemas que ainda não têm solução.

11 - Existe alguma aplicação da computação na astronomia?

A computação e a astronomia caminham lado a lado. Em todos os outros grandes institutos temos um número imenso de engenheiros de software e analistas e trabalhamos com eles no dia a dia.

12 - É possível estudar astronomia a partir da geografia?

Geralmente o estudante de geografia tem acesso a alguns cursos de astronomia. Eu sugiro perguntar se são oferecidos alguns cursos de astronomia para quem não é da área de física. Sei que a USP e a UFRJ tem este tipo de curso. Acho importante que um geógrafo tenha conhecimentos de astronomia porque ajuda a entender as características terrestres.

13 - O que é astrobiologia? ou exobiologia?

A astrobiologia é uma área da astronomia que estuda o aparecimento da vida e a formação de planetas. É uma área da moda. Aos que estiverem interessados em começar astronomia agora ou no futuro, sugiro ficar de olho nos investimentos em astrobiologia e quem sabe se especializar nisto depois. A busca por planetas fora do sistema solar é prioridade nos investimentos de hoje.
O termo exobiologia quer dizer o mesmo que astrobiologia. Estuda a origem e a evolução da vida na Terra e no universo como um todo.

14 - O que é arqueoastronomia?

Não sei muito a respeito. Sei que é uma área relativamente nova na astronomia e que estuda a astronomia das antigas civilizações.

15 - Como é a área de Astroquímica?

A Astroquímica não é uma área muito bem definida, envolve tanto a astronomia quanto a química. Eu sugiro fazer astronomia ou física e depois se especializar em evolução química dos astros. Pode por exemplo estudar como as estrelas enriquecem o meio interestelar com elementos químicos, como as moléculas se formam, etc.

16 - É possível uma Brasileira conseguir trabalhar na área de Astronomia no Japão?

Eu sugiro estudar no Brasil e ir para o Japão fazer parte do doutorado ou pós-doutorado. A astronomia lá é bem avançada e eles são abertos a colaborações. Durante a pós-graduação no Brasil, o estudante pode tentar ir para o Japão trabalhar em algum projeto por 1 ou 2 anos e até observar no Havaí com o telescópio Subaru, que tal?

Tenho diversos amigos astrônomos japoneses e já estive lá. É muito legal, mas precisa falar pelo menos inglês.

17 - Quanto tempo e mercado de trabalho?

A graduação demora uns 4 a 5 anos, o mestrado 2 a 3 anos, e o doutorado 4 a 5 anos. Depois disto o doutor em astronomia tem que fazer concurso para as universidades (física ou astronomia), observatórios e planetários do país. Mas o mercado cresce se o profissional sair do Brasil e explorar outros países. Enquanto estiver esperando os concursos no Brasil existem também bolsas de estágios de pós-doutorado no Brasil e no exterior.

18 - Qual é o salário médio de um Astrônomo(a)?

Em QUALQUER país do mundo, na NASA ou em qualquer observatório, o salário de um astrônomo é o equivalente ao salário de um professor universitário. Nenhum astrônomo passa fome e não existe o desemprego na astronomia. O que existe é uma migração dos astrônomos para outras áreas como ensino e computação.

19 - Como são os locais de trabalho?

Existem muitos observatórios no mundo aonde os astrônomos podem trabalhar. Aqui vai uma lista que fiz com o yahoo de todos os observatórios no catálogo deles http://dir.yahoo.com/Science/Astronomy/Research/Observatories/

Mas o grande mercado de trabalho do astrônomo é o meio universitário. A grande maioria dos astrônomos são empregados por alguma universidade aonde são cientistas, professores e supervisores. O meio universitário é um dos mais propícios para o desenvolvimento da ciência.

20 - O que é Jornalismo Científico?

Para os que não são muito amigos da matemática, mas que gostariam de seguir alguma carreira que fosse paralela a uma carreira científica, eu recomendo o Jornalismo científico. http://www.jornalismocientifico.com.br/jornalismocientifico/artigos/jornalismo_cientifico/artigowilbuenojcdemocratizaconhecimento.htm O jornalista científico escreve artigos para o público contando as últimas descobertas científicas e não precisa dominar a matemática. Mas claro que precisa ser bom no português e aconselho ser bom em inglês também.

21 - Onde você, Dra Duília de Mello, estudou?

Eu fiz doutorado na USP, mestrado na Universidade do Alabama EUA, mestrado no INPE em S. J. dos Campos, iniciação científica no Observatório Nacional no Rio de Janeiro, bacharelado em astronomia na UFRJ.

22 - O que tenho que fazer para ser um astronauta?

Para ser astronauta na NASA precisa ser cidadão americano, muitos são pilotos da força aérea americana, são formados em alguma área tecnológica, e possuem doutorado (PhD) em alguma área tecnológica também. Todos têm ótimo preparo físico e foram alunos exemplares. Para ser astronauta da ESA precisa pertencer a algum país europeu membro da ESA e possuir todas as outras qualificações também. O Brasil ainda é iniciante no assunto, então sugiro investir nos estudos, escolher alguma carreira na área tecnológica, fazer curso de piloto, estudar muito e torcer para o Brasil investir mais na aeronáutica. O Instituto de Pesquisas Espaciais (INPE) pode ser uma boa opção para o curso de doutorado, assim como o ITA.

23 - O que é preciso para ser astronauta e ir para o espaço?

Ser astronauta não é impossível, basta ser teimoso e estudar muito porque a grande maioria tem doutorado em alguma área científica ou tecnológica além de curso de piloto e bom preparo físico. Os que estiverem mesmo interessados, sugiro fazer universidade fora do Brasil e tentar a cidadania européia, americana ou russa. A astronáutica brasileira infelizmente está no início há muitos anos e sofreu muito com a explosão do foguete em 2003 que matou 21 pessoas.

24 - Além da NASA em qual outra agência eu posso trabalhar?

A Agência Espacial Européia, ESA, também é uma excelente opção, mas só trabalha lá europeus dos países membros da ESA. O Canadá também tem um bom programa espacial e, claro, a Rússia já faz isto há muito tempo. A China e o Japão também tem programas espaciais avançados. Mas o astrônomo trabalha em muitos outros lugares, a NASA seria mais adequado para quem está interessado em ciência espacial. Mas gostaria de lembrar que a tecnologia espacial é considerada estratégica e muitas vezes estrangeiros não podem trabalhar em projetos que são considerados de segurança nacional.

25 - É necessário ter cidadania americana para trabalhar na NASA?

A NASA tem dois tipos de profissionais, os que são contratados para trabalhar em projetos específicos e os servidores públicos. Apenas cidadãos americanos podem ser servidores públicos. Quando eu fui trabalhar na NASA eu fui trabalhar com um contrato de 3 anos, depois continuei com outros contratos e hoje sou pesquisadora visitante porque sou professora em uma universidade que tem convênio com a NASA.

Já para trabalhar na ESA precisa ser europeu, mas tem alguns casos de não-europeus contratados também.

O INPE é um ótimo instituto brasileiro e pode ser um bom caminho para entrar em projetos internacionais. Dentro destes projetos existe intercâmbio e oportunidades de se trabalhar na NASA e na ESA.

26 - Quantos brasileiros hoje trabalham na NASA?

Já tentei contar quantos brasileiros trabalham na NASA, mas fica difícil. São muitos centros da NASA (10) e não tenho contato direto com todos os centros. Eu estimei uma vez uns 30, mas baseado no Goddard Space Flight Center (GSFC) que é o maior de todos. No GSFC eu conheço 5 que estão lá faz tempo, mas sou a única pesquisadora, os outros são analistas de dados-softwares, pós-doutores, estudantes. Sei que tem pelo menos 3 no JPL, uma engenheira, uma astrônoma que trabalha na área de planetas e um astrônomo na área de exoplanetas.

27 - Formando-se em Engenharia qual o caminho para trabalhar na NASA?

A NASA tem muitos ramos da engenharia. Eu vou passar um link sobre engenharia elétrica na NASA, só como um exemplo: http://eed.gsfc.nasa.gov/projects.htm
A melhor forma de chegar até a NASA é através de um bom currículo e um contato dentro de algum projeto vigente. Sugiro estudar algum projeto a fundo e mandar e-mail, com o currículo, manifestando o interesse no projeto e demonstrando alguma experiência na área. A experiência pode ser adquirida no Brasil, mas tem que ser comprovada com carta(s) de recomendação de professores/chefes, publicações, etc.

Uma boa forma de conhecer o pessoal da NASA é através de participação em congressos em que eles estarão apresentando os projetos em que estão trabalhando. Conferências como IEEE geralmente têm participantes da NASA.

A astronomia precisa de engenheiros que desenvolvam os softwares e os equipamentos de última geração a serem utilizados. O melhor seria fazer uma pós-graduação ou uma especialização em algum projeto aplicado a astronomia. Por exemplo, a área de detectores tem bastante campo porque estamos sempre melhorando os detectores. Atualmente a moda é infra-vermelho, óptica adaptiva, detectores de ondas milimétricas. As universidades geralmente tem contato com os observatórios e grupos interessados em instrumentação. No Brasil, o INPE e o Laboratório Nacional de Astrofísica são bastante atuantes nesta área. A USP tem colaboração em vários projetos também como o telescópio SOAR e o Gemini.

Gostaria de lembrar que a tecnologia espacial é considerada estratégica e muitas vezes estrangeiros não podem trabalhar em projetos que são considerados de segurança nacional. 

28 - A NASA contrata engenheiros aeronáuticos? Ou só aeroespaciais??

A NASA contrata engenheiros de várias áreas, aeroespacial e astronáutica, mas também elétrica, eletrônica, sistemas, etc. Mas gostaria de lembrar que a tecnologia espacial é considerada estratégica e muitas vezes estrangeiros não podem trabalhar em projetos que são considerados de segurança nacional.

29a - Se formando na área de Ciências da computação, tem como entrar na NASA? Em que área trabalharia lá? 

29b - Que caminho indicaria até chegar lá?

A melhor forma de se ingressar na NASA em ciência da computação ou em qualquer área é através de conhecimento com alguém que trabalhe em algum projeto que tenha colaboração com algum funcionário da NASA. Isto pode ser feito pela internet ou em viagens a conferências onde funcionários da NASA estejam participando. Outra forma é se vincular a projetos brasileiros que tenham alguma colaboração com cientistas da NASA. E ainda uma outra forma é através de universidades americanas próximas de centros da NASA. Por exemplo, quem estuda no Caltech, UCLA, pode fazer algum projeto de pesquisa no Jet Propulsion Laboratory. Os estudantes da Johns Hopkins University, da Univ de Maryland, e da PUC de Washington podem pesquisar no Goddard Space Flight Center e os estudantes da Universidade do Alabama podem pesquisar em Huntsville etc.

30 - Como você entrou na Nasa?

Eu não sou cidadã americana e não posso trabalhar como servidora pública, então o meu trabalho na Nasa é através de projetos. Meu primeiro projeto na Nasa foi para trabalhar com o o Dr. Jon Gardner com imagens profundas tiradas com o Hubble no Goddard Space Flight Center (GSFC). Eu tinha conhecido o Dr Gardner quando trabalhei no instituto do Hubble. Depois do Hubble eu fui para a Suécia e de lá gostaria de voltar para os EUA. Então eu mandei o meu currículo para o Dr. Gardner quando eu estava procurando emprego e ele me contratou. Mas depois do meu segundo ano na Nasa eu comecei a trabalhar nos meus próprios projetos e financiar a minha pesquisa. Em 2008 eu fui contratada como professora da Universidade Católica de Washington DC - a PUC americana. Continuo a minha colaboração na Nasa e a financiar parte do meu salário com os meus projetos de pesquisas da Nasa. Atualmente sou pesquisadora visitante da Nasa-GSFC.

Sunday, February 22, 2009

Cinturão de Fótons


Este foi um dos meus primeiros posts na Super, volto a postar aqui para ter em arquivo, pois não estou achando o link no site da Super. Vira e mexe este assunto volta a tona, então deixa eu explicar um pouco sobre o Cinturão de Fótons, a estrela Alcyone e 2012.



Os esotéricos que me desculpem mas vou botar o meu dedo de cientista na área deles e falar de algo que vem balançando as comunidades esotéricas e astrológicas por aí: a Estrela Alcyone e o cinturão de fótons. Segundo eles, em 2012 quando a Terra passar por um cinturão de fótons ao redor da estrela Alcyone uma nova era começará. Eu nunca tinha ouvido falar no assunto até que duas pessoas me fizeram esta pergunta no mesmo dia, então não resisti e comecei a pesquisar sobre o assunto, chegando a causar uma certa polêmica entre alguns que estão cansados de ouvir falar do tema.

Entrei no google as palavras "alcyone star esoteric" e 901 páginas apareceram, depois mudei para "alcyone star photon belt" e 796 páginas apareceram. Claro que não li as quase duas mil páginas, mas cliquei bastante e agora já posso dizer que acho o assunto superinteressante :-) mas que não passa de esoterismo, fé, crença. Nada pessoal contra os que acreditam, mas eu simplesmente não vejo nenhum fundamento científico em tudo que li, trata-se apenas de crença. Além disto, o que me deixa meio irritada, é que eles falam muita coisa errada e propagam estas informações para o leigo. Vou tentar esclarecer e explicar alguns dos conceitos errados.

A estrela Alcyone faz parte do aglomerado das Plêiades, este bonito que postei lá em cima. As Plêiades ficam na constelação de Touro e as sete estrelas mais brilhantes são visíveis a olho nu e fazem parte de um aglomerado de umas 300 estrelas. As mais jovens foram formadas há poucos milhões de anos atrás e ainda estão envoltas na nuvem de gás progenitora, daí aquela aspecto de névoa na frente. As Plêiades estão a 410 anos-luz de distância e se AFASTANDO de nós. O sistema solar, assim como as Plêiades, orbitam o centro galáctico. O Sol não está orbitando a Alcyone, nem mesmo as estrelas das Plêiades giram ao redor da Alcyone. Como o aglomerado é jovem, à medida que as estrelas vão envelhecendo elas vão aos poucos se afastando uma das outras até ficarem independentes. Está ERRADO tudo que falam sobre isto nos vários sites que tentam explicar como o Sol vai se aproximando da Alcyone e utilizam isto para fazer previsões alarmantes.

Não sei de onde tiraram esta idéia de que estamos orbitando a Alcyone. Se realmente houvesse algo naquela região que estivesse nos puxando, teria que ser algo enorme. Vi os cálculos do professor de astronomia de Chicago, Dr. Cole, aonde ele concluiu que a massa do objeto teria que ser de 200 bilhões a massa do sol, quando a massa da nossa galáxia inteira é por volta de 10 bilhões. Resumindo não tem nada lá.

O cinturão de fótons (que eu nunca tinha ouvido falar, mas que já foi manchete de revistas de New Age nos anos 90) é definido nestes sites com uma região no espaço que irradia ondas eletromagnéticas em todas as faixas de frequência e faz parte do fluído magnético da nossa galáxia. Segundo eles, o cinturão teria sido descoberto por satélites em 1961. Uau, fiquei intrigada e fui até olhar quantos satélites existiam em 1961 já que o primeiro satélite, o Sputnik, foi lançado em 1957. Achei que quatro estavam em operação em 1964, foi em 1961 que a Nasa abriu concorrência para a construção dos satélites. Este site oficial da Nasa tem ótimos dados históricos sobre os satélites americanos, recomendo aos interessados: http://www.hq.nasa.gov/office/pao/History/satcomhistory.html.

Segundo o que li, o cinturão circunda as Plêiades e o sistema solar estará passando por ele em 2012. O que por sinal (coincidência?) é o ano que o calendário dos antigos Mayas termina. A previsão é de que nesta ocasião a humanidade passará por transformações, será o começo de uma nova era e a Terra se dividirá e muitos dos humanos irão para uma outra dimensão. Não sei quanto à vocês, mas eu já escolhi a dimensão em que quero ficar!

texto retirado do site:
http://super.abril.com.br/super2/blogs/mulherestrelas/41250_post.shtml

Wednesday, April 25, 2007

Agora aconteceu mesmo!!!

Queridos leitores, a Mulher das Estrelas virou blogueira OFICIAL da revista Superinteressante! Gostaria de convida-los a clicar lah no site da Super,

http://super.abril.com.br/blogs/mulherestrelas/

o blog ainda estah no comeco e os dois ultimos blogs sao parecidos com os dois ultimos daqui, mas isto vai mudar!!! hoje mesmo vou postar sobre a descoberta do planeta tipo Terra recem descoberto....

Passem lah, deixem os recadinhos usuais, podem pedir assunto, reclamar, e ateh elogiar!!!

Este blog aqui vai aos poucos diminuir porque nao vou ter tempo de manter dois. Mas vou seguir postando trechos do livro neste aqui. Lah na Super vai ser mesmo sobre assuntos do dia a dia, e um pouco dos bastidores da Nasa!!!

Monday, April 23, 2007

17 anos de Hubble!!!

Amanhã, terça-feira, dia 24 de abril, o Hubble completa 17 anos de idade! Vai ter velinha, bolo e champanhe lá no instituto do Hubble em Baltimore e eu, claro, não vou perder esta.

Quem diria que ele chegaria a esta idade e continuando a revolucionar a astronomia? Logo no começo quando produzia imagens fora de foco ele foi considerado um dos maiores fiascos da astronomia. O telescópio que tinha custado mais de US$ 1 bilhão estava prestes a virar sucata espacial. Mas a Nasa respirou fundo e decidiu investir e consertar a barberagem que ela mesmo havia causado. Foi tentando economizar nos testes que eles erraram e não detectaram uma falha no espelho que era 1 micron mais plano do que deveria ser.

17 anos depois, ele continua a nos deixar boquiabertos com a beleza do universo. Mas foram mais de US$ 4 bilhões de investimento e atualmente o telescópio funciona precariamente por falta de manutenção. Depois de muito debate e muito lobby no congresso, no ano passado a Nasa decidiu que mandará uma missão do ônibus espacial para substituir alguns dos instrumentos e fazer a manutenção necessária para mante-lo saudavel pelo menos por mais uns 5 anos pela frente. Temos apenas que ser pacientes porque a fila para pegar o ônibus é longa, e torcer para o telescópio continue funcionando mesmo que precariamente.

O Hubble foi inicialmente planejado para operar por 15 anos (até 2005).

Aqui vai a minha foto favorita do Hubble - Nebulosa da Aguia, tambem conhecida com Pilares da Criação:

Saturday, April 21, 2007

Violência em Houston

Oi pessoal, sei que a notícia já se espalhou e muitos estão me perguntando, então deixa eu contar o que sei. Ontem por volta das 13h40, horário de Houston, um engenheiro da Nasa armado se trancou em uma sala no segundo andar do prédio 44 do Jonson Space Center. Com ele estavam outros dois funcionários da Nasa, a secretária sobreviveu, mas o outro engenheiro foi baleado pelo atirador que se matou logo em seguida.

Mas eu só fiquei sabendo disto pelo rádio do meu carro a caminho de Baltimore. Eu trabalho na Nasa/Goddard de Greenbelt (Washington DC) que fica bem longe de Houston. Ufa! o fuso horário daqui é 1 hora mais tarde, então eram 14h40 aqui quando isto aconteceu. Mais ou menos a esta hora eu estava as voltas com um artigo que precisava enviar para minha colaboradora da USP até as 15h15 quando fui assistir a um seminário sobre Plutão no auditório principal do Goddard. Lá no seminário éramos umas 200 pessoas e ninguém mencionou nada, a notícia ainda não tinha chegado a todos. Bem, o seminário terminou por volta das 17h e eu fui direto para casa porque tinha jantar marcado com o Claus Leitherer e a família dele às 18h30. Fomos comemorar o aniversário dele e a minha chegada em Baltimore há 10 anos atrás. Bem, demorei muito no trânsito, mais de uma hora, porque sexta-feira neste horário fica tudo engarrafado. Eu sempre saio por volta das 19h para evitar isto, mas como o Claus tem uma filha de 3 anos, jantar tem que ser cedo. No rádio falaram que um homem armado estava trancado em uma sala do Johnson Space Center mas não deram mais detalhes. Quando cheguei na casa do Claus, que fica bem pertinho da minha, ele contou que CNN já estava dando o resultado da violência no JSC. Que tristeza...

Imagino que a segurança no JSC seja parecida com a do GSFC, mas nunca estive lá. Todos os funcionários do GSFC possuem um crachá com foto para entrar no campus. Todos tem que mostrar o crachá ao segurança nos portões de entrada, mas não tem detetor de metal ou nada parecido, é apenas um portão com vários seguranças. No GSFC tem a polícia K9 com os cães que inspecionam alguns carros selecionados aleatoriamente a procura de bombas/explosivos, mas geralmente acham apenas o lanche do pessoal... Eu gosto muito da Eeba, uma cadela pastor-alemã que às vezes passeia pelo meu carro e nunca acha nada, nem lanche...

Espero que o ocorrido no JSC não signifique segurança mais reforçada ainda nos centros da Nasa... O caso tem que ser visto como um acidente isolado, pode acontecer em qualquer lugar público, como recentemente aconteceu na Virgínia. O problema não é o nível de segurança mas sim a disponibilidade de armas e a instabilidade emocional de muitos.

Estou de saída, vou limpar as ruas da vizinhança. Hoje é dia de limpeza em Baltimore e minha vizinhança coleta os lixos deixados durante o inverno todo pelas ruas...

Thursday, April 19, 2007

Há 10 anos atrás - último capítulo

Pois é, esta semana estive super ocupada, mas vou postar o último capítulo dos 10 anos atrás. Cheguei no dia 23 de abril de 1997 em Baltimore e fiquei até agosto de 1999, quando fui para a Suécia. Muita coisa aconteceu neste período, trabalhei muitíssimo, casei, conheci uns 10 países, escrevi muitos artigos, fui a inúmeras conferências e fiz muito amigos. Mas acho que uma das experiências mais interessantes foi novamente proporcionada pelo Bob Williams. Aqui vai o trecho que escrevi no livro:


No início de 1998 eu fiquei sabendo que o Bob estava planejando tirar uma segunda imagem profunda com o Hubble mas desta vez apontando para o céu do hemisfério sul. Vários astrônomos tinham comentado com ele da necessidade de uma outra imagem profunda que serveria para verificar se a primeira era mesmo típica do universo. Além disto, como muitos dos observatórios mundiais se encontram no hemisfério sul, voltando o Hubble para o sul possibilitaria que os outros observatórios do sul também observassem o mesmo campo. Eu fiquei toda animada com o novo projeto e mandei um email para o Bob perguntando se eu poderia fazer parte do projeto já que eu era uma das poucas pessoas do hemisfério sul no instituto! Foi uma desculpa esfarrapada mas que serviu para abrir a porta. O Bob imediatamente me incluiu no grupo de 30 pessoas que estavam envolvidas no projeto. As observações seriam feitas no fim de setembro e início outubro e teríamos mais ou menos um mês para prepará-las para análise e entregá-las para a comunidade. Foram 30 dias muito intensos. Eu tinha sido escolhida para fazer todas as correções de apontamento nas imagens. Assim que as imagens chegassem nos computadores do STScI, a analista de dados me avisaria e eu teria que implementar a correção de apontamento. Esta correção precisava ser feita porque o Hubble não estava apontando durante todos os dia sem interrupção. Pelo contrário, se fizéssemos isto as imagens ficariam saturadas e cheia de defeitos causados pela detecção de raios cósmicos . Dividimos as observações em intervalos de tempo (aproximadamente 30 minutos) e depois de cada observação re-apontamos o telescópio para a coordenada desejada. Ao fazer o re-apontamento do telescópio, temos que levar em conta os pequenos erros na precisão do apontamento. Como eram tantas as imagens estes pequenos erros poderiam se somar e virar grandes erros. Eu monitorei cada imagem, determinei o erro e implementei as correções juntamente com um outro astrônomo do STScI, Stefano, que era um dos coordenadores da campanha. Fui uma das primeiras pessoas a ver as imagens que chegavam à Terra, uma sensação difícil de descrever. Eu terminei minha contribuição no fim da segunda semana e o resto do time trabalhou 24 horas por dia terminando de preparar as imagens até chegarem na imagem final. Eu aprendi muito nesta aventura e sou grata ao Bob por ter me incluído no time.

Fiquei ainda mais fã do Bob Williams ao ver como ele administrou o projeto. O HDF-S, como é conhecida a imagem profunda do sul, era um projeto ainda mais ambicioso que o primeiro. O Bob arriscou novamente e decidiu apontar todos os instrumentos do Hubble simultaneamente e obter não apenas uma imagem, mas 3 imagens. Um dos instrumentos, o espectrógrafo de imagens STIS , ficou apontado para um quasar, a câmera WFPC2 e a câmera infravermelha NICMOS apontaram para regiões vazias do céu.


A imagem tirada com a WFPC2, que eu fui uma das primeiras a ver!

Mais informação sobre o Hubble Deep Field South: http://www.stsci.edu/ftp/science/hdfsouth/hdfs.html
http://zuserver2.star.ucl.ac.uk/~apod/apod/ap981214.html

Wednesday, April 11, 2007

Há 10 anos atrás, Parte III

Quando encontrei com o Bob Williams no corredor do instituto do Hubble (STScI), ele ficou surpreso, perguntou se era eu mesma e me deu um grande abraço de boas vindas. Depois disto fiquei amiga do Bob, batíamos papos em espanhol, e às vezes íamos a cervejaria favorita dele onde os garçons abriam um grande sorriso ao ver o Dr. Williams. Entre uma cerveja e outra o Bob me contou muitas histórias, uma delas repito sempre pois acho muito importante para os jovens astrônomos saberem que ele não tem emprego permanente e é contra o sistema de contratação efetiva. No auge da carreira dele como professor titular da Universidade do Arizona ele conta que certa vez quando estava com vários amigos em um dos bares de Tucson, um deles filosofou: “o que eles achavam que estariam fazendo 20 anos depois?” O Bob disse que entrou em crise, viu que não poderia imaginar estar exatamente no mesmo lugar fazendo exatamente a mesma coisa nos próximos vinte anos. Logo depois da conversa no bar, ele pediu demissão, ficou desempregado por um tempo, e se mudou para o Chile para ser diretor do Observatório americano de Cerro Tololo onde ficou por 9 anos. Saiu de lá para ser diretor do STScI por 5 anos e novamente pediu demissão pois gostaria de voltar a fazer pesquisa. Hoje ele é apenas mais um astrônomo do STScI com ambições científicas, mas com contrato por tempo determinado.